ID:Rio marca um novo tempo na moda brasileira
O evento movimentou a moda em Niterói e trouxe novo olhar para marcas autorais
Por Carol Fernandes

Já fazia um bom tempo que os eventos de moda não ganhavam grande repercussão aqui no Rio de Janeiro. Saímos do Fashion Rio para o Fashion Business e chegamos ao famigerado Veste Rio. A verdade é, que, com tantas expectativas frustradas, esses movimentos envolvendo a moda brasileira deixaram de ser promissores e começaram a cair num crescente descrédito.
Foi nesse cenário quase antipático que recebemos o ID:Rio em Niterói. O fato de não ter a capital do Estado como sede, já atraiu alguns olhares. Mas sua proposta foi muito além de ser um evento fora do eixo Rio-São Paulo. Com uma programação robusta, atuou em diversas frentes como educação, sustentabilidade, moda, empreendedorismo e entretenimento.

O ID:Rio nasceu nos moldes do seu "irmão mais velho", o DFB Festival, que acontece no Ceará há mais de 20 anos, e compartilha os mesmos idealizadores: Helena Silveira e Cláudio Silveira. Sua primeira edição foi realizada em 2021, mas podemos considerá-la embrionária, principalmente quando comparada ao tamanho desta que acabou de acontecer.
A parceria com o Caderno Ela, do jornal O Globo, permitiu a realização de talks com grandes nomes como a apresentadora e atriz Luana Xavier; a diretora criativa e CEO da Dress To, Thatiana Amorim; o escritor e CEO da agência 3, André Carvalhal; entre tantos outros. Os temas caminhavam entre negócios, sustentabilidade e os novos rumos do mercado da moda. E não eram "palestrinhas" com o tal do mais do mesmo, era conteúdo pesado para anotar, refletir e assimilar ainda melhor depois.


Ao final de cada talk, os participantes podiam fazer perguntas. E foi pelo nível dos questionamento que percebi o quanto estávamos órfãos desse tipo de evento. Aquelas poucas horas poderiam, facilmente, se transformar em manhãs ou tardes completas.
Os desfiles
Que saudade de me emocionar com as passarelas! Acho que, justamente por dar espaço e acolher novas marcas, o ID:Rio conseguiu transmitir, nos desfiles, a garra de quem também merece (e muito!) um lugar ao sol.

Embora todas apresentações tenham sido lindíssimas, quero destacar algumas. A coleção apresentada pela Enel, empregou o conceito upcycling de maneira grandiosa. Aplaudimos de pé. Afinal, reutilizar materiais que seriam descartados para dar novos usos, deveria ser - e quero acreditar que será - o futuro da moda.
Seguindo essa ideia do reuso, quem também brilhou foi a Kitecoat, marca que eu ainda não conhecia e me apaixonei. As jaquetas são criadas a partir do reaproveitamento da lona de pipas de kitesurf. Cada peça é única e cheia de história. Eu fiquei querendo MUITO uma pra mim! Esse desfile aconteceu em parceria com a Marju, destaque na moda carioca pelas peças handmade atemporais.

A estilista Erica Rosa, com o IED Rio, apresentou peças fluidas e saiu do lugar comum para representar o life style carioca com toda sua leveza, criatividade e cores. Ainda no quesito criatividade, alunos da Firjan SENAI Espaço da Moda, vieram diretamente de Nova Friburgo para reiterar o talento dessa nova geração de estilistas brasileiros.

O Plaza Niterói, um dos grandes apoiadores do evento, também apresentou na passarela as coleções de algumas marcas presentes no shopping. E a Dress To, marca niteroiense que está ganhando o mundo, mostrou que não são apenas as "cariocas da gema" que têm borogodó. Do "outro lado da poça", como alguns se referem a Niterói, também tem muita bossa!
Empreendedorismo
Parece que temos mesmo muita coisa para falar desse evento, né?
Na parte externa, ficou montada um feira de moda autoral, a ID:Street, com curadoria da plataforma Carandaí25 e destaque para a Casa Enel, que reúne o trabalho de artesãos de todo o Estado do Rio de Janeiro.

O ID:Rio também recebeu o grupo Somos Empreendedoras, formado por mulheres impulsionadas pelo lema “juntas somos mais fortes”. É lindo ver como elas estimulam a troca de experiências e vivências como forma de crescimento e desenvolvimento de todas, cada uma em sua atividade profissional!
Shows
Os shows, mesmo sendo incríveis, não eram essenciais para validar o ID:Rio, mas deixaram o evento mais completo. Sabe quando fecha redondinho? Para participar, era preciso levar 1kg de alimento não-perecível.
Assim, mais de 2 toneladas de alimentos não-perecíveis foram arrecadados durante o festival. Eles foram doados integralmente ao projeto Niterói Solidária, projeto essencial que ajuda pessoas em situação de vulnerabilidade social na cidade.
Considerações finais

Nem preciso de muitas outras palavras para descrever o quanto o ID:Rio marcou um novo tempo na moda fluminense. Sem vaidade e, com muita simpatia e bom-humor, Claudio Silveira me disse numa entrevista para o @garotasdeblush que "está bobo", quando perguntado sobre sua análise final do evento.
Sim, Claudio! Todos estamos bobos!
Voltem mais vezes e mostrem para o país todo que há espaço para a moda autoral brasileira contar novas histórias!